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Quando a intromissão é melhor que omissão.

Desde que o Bernardo Boldrini morreu não tenho tido paz.
Não, eu não o conhecia e as minhas chances de impedir que algo acontecesse com ele eram inexistentes, já que nem no Brasil eu moro, mas mesmo assim sinto que de uma maneira ou de outra nossa sociedade foi omissa, porque, estava na cara e nas atitudes de seu Pai e de sua madrasta que eles eram dois psicopatas .
Como uma mulher, que é mãe, consegue ser tão indecente? Tão cruel? Tão fria e premeditada?
Como um Pai, consegue ser marido de alguém que não suporta seu filho, mesmo que de um relacionamento prévio?

O Rosinha me lembra que no meio da nossa primeira conversa, eu já fui logo dando um jeito de dizer que eu tinha um filho. Algum diálogo doido do tipo:

-Você vem sempre aqui?
-Não, eu tenho um filho que mora no Brasil e eu saio pouco a noite pra poder falar com ele pelo telefone.

É claro, que ele entendeu o recado.
Se ele me ligasse no próximo dia, ele estaria ligando para alguém com filho e todas as implicâncias que essa condição o levaria, caso nossa estória não parasse por ali.

Quando ele me pediu em casamento, eu disse que sim, mas com a condição de que ele e o Breno se dessem bem, ou seja, eu só marquei a data depois que tive certeza de que o convívio, o respeito e o cuidado entre eles era benéfico para os dois, quer dizer, para nós 3.

Veja bem, eu nunca exigi que ele tivesse o mesmo amor pelo Breno que ele tem pelas filhas de sangue dele (embora eu ache que sim), mas eu sempre exigi dele respeito, atenção, inclusão e carinho pelo meu filho, que já era meu antes mesmo de sonhar conhece-lo.

Assim que o Breno veio morar comigo, a irmã do pai dele (tá acompanhando? Minha ex-cunhada), veio nos visitar, ela mora na França e veio passar 1 semana com a gente. Confesso que quando soube que ela viria fiquei um pouco nervosa, a essa altura o Breno já chamava o Rosinha de Dad e sei que seria difícil pra ela ver o irmão falecido sendo “substituído” (assim mesmo, entre aspas, porque na verdade, ele ganhou outro pai, mas não perdeu o primeiro), a visita foi ótima, pra todo mundo, até o Eamon curtiu e pra falar a verdade, ficamos muito felizes em saber que a Família do pai se importa, porque sei que o objetivo dela quando veio foi checar o ambiente a que o sobrinho estava sendo exposto, quer intromissão e prova de amor maior que essa?

Espero, do fundo do meu coração, que esse Menino, querido por todos e negligenciado por todos, não tenha morrido em vão e que a gente passe a prestar atenção aos indícios de maus tratos que acontecem todos os dias a nossa volta. Quando se trata de criança e idoso não é fofoca, não é invasão, é cuidado com quem ainda, de uma maneira ou de outra, não tem condições de se defender.

Eu não queria ser os vizinhos que o viam sentado na calçada sem alimentação e sem poder entrar em casa enquanto o pai não chegasse do trabalho. Eu não queria ser essa avó materna que não se fez mais presente.
Eu não queria ser seus professores que o viam com uniforme surrado, que sabiam que o Pai não esteve presente nem em sua Primeira Comunhão e que o viam sem lanche na escola.
Eu não queria ser esse Juiz (que agora se descobriu, tem ligação com a família do pai do Bernardo)
tem nas mãos um pouco de sangue, também.

“Lavar as mãos” para um problema como esse não é respeito a privacidade alheia, é omissão, é passividade, é desdém.

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12 Comments

  1. que triste esse caso, incrivel como tem gente que se desapega dos filhos com tanta facilidade.

  2. Falou tudo…penso da mesma maneira…eu também não queria ser nenhum desses porque se fosse não sei como conseguiria dormir a noite, pensando que poderia ter feito algo e não fiz.
    E o pai mesmo que não tenha participado de nada deve responder mesmo por tudo, porque foi conivente, omisso.
    Tem coisas que é realmente muito complicado de entender…
    bjs

  3. Kássia Hannigan

    Você disse tudo! Eu não tenho filhos. Mas sempre que alguém aparecia na minha vida, a minha primeira preocupação era: tem que se dar com minha família imediata, isso mesmo, conviver muito bem obrigada com os meus pais e minhas irmãs e de quebra com meus avós. Exagero? Talvez, mas mesmo formando minha família, eu não deixaria de ter uma, e gostaria que tudo fosse uma continuação do que foi construído. Bom,eu não tenho filhos meus, mas agora temos não só filhos, mas netos. Casei com alguém que meu pacote completo e embora ele nunca exigisse algo do tipo: vai ter que aceutar tudo, eu mesma tomei a iniciativa de ser mãe de 3 adultos e nana de 7. Sim, tenho quase 35 anos e ganhei uma fikha de 28 anos que me chama mami e seus filhos têm o maior orgulho de dizerem na escola:minha avó é brasileira e eles ganharam a "mô moral"com isso. Isso é família, cuidar, amar e respeitar!

  4. Bela reflexão, Ká. Eu que já vivi com madrasta por mais de sete anos sei o que é ser sutil, mas forte e frequentemente maltratada e ignorada. Tratada com uma estranha em minha própria casa. Imagina quando as coisas tomam um extremo como nesse caso. Também espero que a morte dele não seja em vão.

  5. Jà è difìcil demais perder uma crianca nessas condicoes, e o que tambèm me choca è o fato de ser um crime anunciado, ou seja, todo mundo foi omisso, menos o proprio Bernardo que procurou ajuda da propria justica e esta nao fez nada. Acabou acontecendo o pior debaixo dos olhos de todos…
    È triste e revoltande.

  6. Tirou as palavras da minha boca. Karine, você e uma pessoa iluminada (não porque temos opiniões parecidas, mas faz um tempo que acompanho o seu blog e queria dizer isso, maaas não tinha coragem rsrs). Crianças e idosos realmente necessitam da "intromissão" alheia, pois, como vc disse, não têm condição de se defender. Eu já sabia do tamanho da omissão da nossa sociedade por diversas situações vividas por mim, mas não sabia que chegava a esse ponto. Realmente, que a vida do Bernardo não tenha sido em vão e que sirva como um despertar, pelo menos à alguns.

  7. É difícil falar no caso…me sinto sufocada só em pensar e saber que nada mais poderá ser feito a não ser justiça…não devolve a vida…tb não gostaria de estar na situação dessa vô principalmente…poderia ter feito algo???…enfim o que mais doi é saber que foram omissos pq a família é de "classe alta", tb espero que as pessoas tenham mais consciência e pensem no pior, antes que aconteça…muito triste!!!!

  8. Sim, Karine, a omissão também me incomoda muito. O oposto do AMOR não é o ÓDIO, o oposto do AMOR é a INDIFERENÇA. O silêncio dos que têm voz e optam por não usá-la. O silêncio dos vivos… Daqueles que nunca se pronunciam, sob a falsa alegação de que não querem se intrometer… Mera desculpa para a passividade. Que pena que esse silêncio custou uma vida!
    Cristiane

  9. Ká, sempre leio seu blog, e nunca, nunquinha, comentei (a preguiça foi maior que a vontade, que vergonha! E olha que a vontade é enorrrme!). Mas dessa vez me vi obrigada a escrever aqui… Estou arrepiada com teu texto e só não chorei pq estou no trabalho…você escreveu tudo que eu penso, eu fiquei extremamente chocada como uma tragédia anunciada dessas pode chegar aos fatos, e envergonhada de ser parte dessa sociedade. Absolutamente é muita falta de amor ao próximo, de muitas partes! E quanto ao juiz, como pode ter deixado o garoto nas mãos do pai sabendo que a condição dele (do filho) para aceitar voltar para casa paterna era, entre outras coisas, ter o direito de brincar com a irma bebê? Oi? Como assim? Antes não podia e o juiz acha tudo normal? Nessas horas queria ser uma promotora das boas e colocar esse juiz deus na cadeia, junto com os outros autores do crime. Porque sim, são muitos os que tem sangue nas mãos. Peço a Deus que mantenha meus olhos sempre abertos pra praticar bastante a intromissão! Um beijo, Mari (Fpolis).

  10. Também considero muito importante em um relacionamento, se tem criança no meio (mesmo de um outro relacionamento) que todo mundo se dê bem e se respeite. Mas vejo realmente muita gente que esquece que tem filho quando entra em outro relacionamento, e sinceramente não consigo entender esse "amor" tão cedo e tão devastador que passa por cima de tudo!
    Há alguns meses ouvi a maior bagunça da parte de uns vizinhos, eles chegaram e vi pela janela o homem batendo na mulher, que estava grávida e com uma criança no colo. Minha reação foi ligar para a polícia e explicar o que tinha visto. Algumas pessoas acham que é colocar o dedo onde não fui chamada, mas não suportaria ter nas costas a responsabilidade de uma tragédia.
    A polícia realmente veio, o homem foi embora e atualmente a mulher vive sozinha com os filhos.

  11. Nós temos responsabilidade sim, pelas nossas crianças seja elas familiares ou conhecidos etc: Lembro-me bem
    à 15 anos passado época que trabalhava com minha irma…ela tinha uma doceria…e derrepente começou ali frenquentar um garotinho que tinha 9 anos…as vzs vinha com dinheiro e comprava algo…mas n maioria das vzs vinha só para conversar comigo e olhar os doces…eu comecei a sentir uma certa carência naquela criança…e comecei a lhe fazer perguntas…onde morava, com quem morava, e descobri que ele era orfã de mãe, e que morava com os avós e o pai…que dizer, o pai na verdade já tinha outra em outra cidade…e vinha passar alguns dias….a madrasta tinha duas filhas….e eu fui fuçando mais e mais…perguntando se a madrasta tratava ele bem etc tal….via que ele olhava os docinhos com uma vontade…mas n tinha dinheiro…e eu passei algumas vzs a dar lanche para ele…embora ele era de uma familia de exelente condiçoes…pois passei a saber onde era sua casa….me intrigava aquilo do menino n ter dinheiro para comprar os lanchinhos….um certo dia a avó dele foi lá e descobri que já era nossa cliente…e ela me perguntou se eu dava mesmo aqueles lanches, que muitas vzs ele levava para casa…pois ela tava achando estranho…pensando onde ele estaria arrumando dinheiro? eu eu falei que sim, q era eu….e ela disse que na verdade ele estava de dieta por isso que n dava dinheiro para ele rs…mesmo assim, achei ele um pouco carente…mas fui fuçar pra saber…pq se tivesse algo errado…sem sombra de duvidas eu ia conversar c alguém da familia…então fiquei com minha conciência de dever cumprido…e por essa razão, digo que muitas pessoas prôximas ao Bernardo foram totalmente omissas…

  12. Não sei o que dizer, essa morte mexeu comigo.

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